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Pesquisa sódio - acordos brandos

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Atualizado: 

16/04/2014
Pesquisa do Idec mostra que alguns alimentos poderão manter
mais do que o dobro da quantidade recomendada de sódio
 
O Instituto compara as metas estipuladas na quarta fase do acordo das empresas com o MS, com a quantidade já praticada e aponta que maioria dos produtos, ao invés de reduzir, terão margem para adição de sódio. Alguns alimentos já possuem 90% a mais de sódio do que o recomendado para uma alimentação saudável.
 
São Paulo, 16/04/2014 - Pesquisa do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), desenvolvida em projeto sobre regulação de alimentos e doenças crônicas, apoiado pelo IDRC (The International Development Research Centre, ou Centro Internacional de Investigação sobre o Desenvolvimento), aponta que as metas estabelecidas de redução de sódio, em acordo entre empresas e o governo, ainda são muito tímidas, pois não propõem mudanças significativas na qualidade dos alimentos industrializados.
 
Todos os alimentos avaliados pelo Instituto, mesmo após as propostas de redução, ainda apresentam quantidades de sódio prejudiciais à saúde: acima de 600 mg numa porção de 100g do produto, seguindo o critério de classificação do Semáforo Nutricional. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a recomendação é que a quantidade diária não passe de 2g. O consumo de 100g de linguiça frescal, por exemplo, já é responsável por mais da metade dessa quantidade (1.511,2mg de sódio p/100g = 92% acima do recomendado).
 
O Idec avaliou os rótulos de 95 produtos de nove categorias, que fazem parte da quarta etapa dos acordos, anunciada em novembro passado. São alimentos já reconhecidos pelos consumidores pelo excesso de sal, como a própria linguiça, mortadela, salsicha, hambúrgueres, sopas prontas, entre outros, relacionados na tabela abaixo. No entanto, a expectativa de redução real é mínima. Dos 11 tipos de produtos, sete apresentam uma meta superior à quantidade média de sódio utilizada pela indústria. 
 
A linguiça (temperatura ambiente) apresenta, hoje, 1.239,3mg de sódio por 100g. A meta para 2017 é de 1500g de sódio por 100g, com uma variação de 17,4% para mais. Ou seja, este alimento poderá ter mais do que o dobro dos 600mg/100g. 
Além disso, 57,9% deles já contêm teor de sódio igual ou inferior ao teor fixado para a primeira fase, que deveria ser cumprida até 2015; e 49,5% também estão, hoje, de acordo com a quantidade de sódio fixada para a segunda fase, cujo término é previsto somente para daqui a três anos, em 2017. 
 
“Mais uma vez, as metas se mostram muito brandas e não exigem grandes esforços da indústria para atingi-las. Claramente, as regras para o cálculo das metas precisam ser revistas.”, destaca Ana Paula Bortoletto, nutricionista do Idec responsável pela pesquisa. Além disso, por se tratar de um acordo voluntário, não existe previsão de sanção para o fabricante que não cumprir as metas estabelecidas. Essa condição reforça, mais uma vez, a necessidade de uma informação nutricional mais clara nos rótulos para o consumidor”, lembra Ana Paula.
 
Dessa forma, a atenção ao consumo desses alimentos deve ser redobrada. Vale destacar que, além de conter muito sódio, boa parte dos itens avaliados é de origem animal e, intrinsecamente, contém ainda grandes doses de gordura saturadas, que, em excesso, também são péssimas para a saúde. “A ingestão desses produtos deve ser moderada e esporádica”, finaliza a nutricionista.
 

Considerando-se as metas para os alimentos de todas as categorias analisadas, todos os produtos ficariam entre o amarelo e o vermelho – ou seja, com médio ou alto teor de sódio .

 
Sobre o Semáforo Nutricional
Os parâmetros do Semáforo Nutricional, esquema criado no Reino Unido para facilitar a compreensão das informações do rótulo por meio de cores (vermelho para alto teor; amarela para médio teor; e verde para baixo teor), classifica um alimento com alto teor de sódio quando contém mais de 600 mg do nutriente numa porção de 100 g; médio teor, quando tem entre 100 mg e 600 mg por porção; e baixo teor quando tem menos de 100 mg.
 
Como foi feita a pesquisa
O levantamento faz parte de um projeto apoiado pelo IDRC (The International Development Research Centre, ou Centro Internacional de Investigação sobre o Desenvolvimento) sobre regulação de alimentos e doenças crônicas.
 
O Idec verificou o teor de sódio informado nos rótulos de 95 produtos de nove categorias que fazem parte da quarta etapa dos acordos para a redução de sódio, firmado entre o Ministério da Saúde e os fabricantes, tais como Associação Brasileira de Indústrias de Alimentação (Abia), Associação Brasileira das Indústrias de Queijos (Abiq), Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de carne suína (Abipcs), Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado de São Paulo (Sindicarnes) e União Brasileira de Avicultura (Ubabef).
 
Foram avaliadas seis marcas de queijo tipo muçarela, oito de salsicha, oito de hambúrguer (bovino e de frango), oito de empanados, oito de linguiças (frescais e mantidas sob temperatura ambiente, como as defumadas), nove de mortadela (refrigerada e em temperatura ambiente), quatro de presuntaria (apresuntados e presuntos), 24 de requeijão (light e convencional) e 14 de sopas instantâneas.
 
Os valores informados no rótulo foram comparados com as metas e prazos estabelecidos no compromisso voluntário e também com os parâmetros do Semáforo Nutricional, da agência de saúde do Reino Unido.
 
 
Perigos do sódio para a saúde
O consumo excessivo de sódio está relacionado ao desenvolvimento de várias doenças, como hipertensão problemas cardiovasculares e renais. A questão é preocupante porque os brasileiros consomem, em média, mais que o dobro da quantidade do nutriente recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a ingestão é de 5 g por dia, enquanto a recomendação da OMS é que não passe de 2 g por dia.
Parte significativa desse excesso vem dos alimentos industrializados, que fazem cada vez mais parte da rotina alimentar Brasil afora. Por isso os acordos junto aos fabricantes foram firmados.
 
 
Sódio não é o único inimigo
O Idec defende ainda que, não apenas o sódio, mas todos os nutrientes não saudáveis precisam ter metas rígidas de redução nos alimentos consumidos no País. “Quando discutimos medidas para redução de doenças crônicas, especialmente aquelas relacionadas a alimentos, não basta discutir a redução de sódio. O consumo de gorduras saturadas, açúcares, além do sódio, precisa ser reduzido. Estes nutrientes contribuem para o quadro de sobrepeso e obesidade e suas consequências", explica Ana Paula.
 
Sobre o Acordo
Com metas bianuais, que teve início em 2011. Ao todo, já somam 16 categorias de produtos que assumiram compromissos de reduzir o teor de sódio, o que corresponde a 90% dos alimentos industrializados, segundo o Ministério da Saúde.
O Ministério da Saúde elaborou o Plano Nacional para Redução do Consumo de Sal, apoiado nos seguintes eixos:
 .           Redução voluntária dos níveis de sódio nos alimentos processados e alimentos comercializados em restaurantes e estabelecimentos de alimentação.
.           Aumento da oferta de alimentos saudáveis
.           Rotulagem e informação ao consumidor
.           Educação e sensibilização para consumidores, indústrias, profissionais de saúde e outras partes interessadas.
Para tanto, o Ministério da Saúde firmou acordo, documentado pelos Termos de Compromisso nº 0038 e 004/2011, com a Associação Brasileira de Supermercados, com as Associações Brasileiras das Indústrias de Alimentos (ABIA), de Massas Alimentícias (ABIMA), de Trigo (ABITRIGO) e de Panificação e Confeitaria (ABIP), respectivamente.
Esses compromissos deram origem a dois outros documentos firmados em dezembro de 2011 e agosto de 2012, estabelecendo limites de sódio para diversas categorias de produtos.
As categorias prioritárias foram definidas segundo a contribuição de cada alimento à ingestão de sódio pela população brasileira (de acordo com a aquisição domiciliar segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE, de 2002-03, e o teor de sódio nos alimentos, segundo a Tabela de Composição de Alimentos e, complementarmente, outras fontes). Além disso, também foram adicionadas categorias de alimentos com elevado teor de sódio que são mais consumidos por públicos vulneráveis, como crianças e adolescentes.
 
 
Confira a avaliação de outras categorias de alimentos de outras etapas do acordo para a redução de sódio:
l Cuidado: sal demais (edição nº 173). Acesse: http://goo.gl/F5R0pA
l Menos sal nos próximos anos. Será? (edição nº 157) Acesse: http://goo.gl/zR2FLG