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A classe média continuará a crescer em 2012?

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Atualizado: 

13/10/2017
Carlos Thadeu C. de Oliveira
O ano de 2011 foi, sem dúvida, o que mais se falou da ascensão econômica da chamada “classe C”.
 
Seja do ponto de vista econômico, seja do ponto de vista sociológico, é a parcela da população que mais tem atraído a atenção, talvez porque a mobilidade social do País parecia estar encurralada. Tínhamos, até bem pouco tempo, a imagem de um Brasil sem classe média, dividido entre muito ricos e muito pobres.
 
Diversas frentes contribuíram para esse movimento nos últimos anos: a estabilidade econômica, o acesso mais fácil ao ensino superior, a elevação de renda na área rural e em regiões mais pobres, para ficar em algumas delas.
 
Mas o País tem pela frente novos desafios. No crédito e nos impostos. Para continuar crescendo, é provável que o recurso ao crédito seja ainda mais necessário que antes.
 
Ainda que o volume de crédito em relação ao PIB tenha crescido muito, podendo chegar perto de 50% ainda este ano, estamos longe das marcas de outras economias importantes, que passam de 100% do PIB.
 
Tributação justa e expansão do crédito são desafios para a nova classe consumidora do País. Uma das apostas para expansão do crédito é fazer com que aquele voltado ao setor imobiliário duplique em dois ou três anos. E, além desse setor, é necessário ampliar o crédito de longo prazo para infraestrutura, agricultura e indústria.
 
O que isso tudo tem a ver com o consumidor “classe C”?
 
Que não apenas ele terá de ter mais crédito de longo prazo (para habitação, por exemplo), como o crédito terá de ser mais barato; isto é, os juros terão de baixar. 
 
A injeção gradual de dinheiro talvez seja a única maneira de evitar que o crescimento alimente a inflação e esta volte a corroer o ganho de renda obtido a duras penas. Se a inflação ameaça, o Banco Central eleva os juros e freia o crescimento. E, ainda, é a única forma de não colocar a classe média em forte risco de inadimplência.
 
Os bancos privados, embora tenham aumentado sua parcela no crédito de longo prazo, ainda têm baixa participação, praticam juros altíssimos – com spreads elevados – e costumam ser ariscos demais a financiamentos longos, sobretudo em momentos de crise.
 
Não fosse o financiamento público à habitação (75% do total), mesmo depois da crise de 2008, por exemplo, a chamada “classe C” não teria acesso à casa própria.
 
O mesmo ocorreu em outras atividades econômicas. Está mais que na hora de os bancos privados deixarem de privilegiar apenas o crédito a curto prazo e de alta rentabilidade. Nesses padrões, ou o crescimento não se sustentará ou a inflação cobrará a conta logo adiante – e a população será a primeira a pagar.
 
O outro desafio para manter a curva de ascensão econômica de grandes parcelas de consumidores diz respeito à carga tributária. Mas não basta dizer que é necessário baixar os impostos. É preciso dizer como eles têm de baixar, e está claro que precisa baixar mais urgentemente para os mais pobres.
 
O custo de vida no Brasil já é elevado mesmo se considerarmos os preços nominais de produtos e serviços. Se considerarmos isso relativamente ao poder de compra, aí a coisa fica pior. Em diversas pesquisas que o Idec tem feito constatamos que os preços no Brasil são altíssimos quando comparados aos preços dos mesmos serviços e produtos da Europa, Ásia e Estados Unidos.
 
O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) vem mostrando, em pesquisas reiteradas, como a desigualdade tributária no Brasil tem se aprofundado. Predominam no País os impostos indiretos, aqueles embutidos em preços de produtos e serviços – como o ICMS, IPI e PIS/Cofins –, e eles pesam mais no bolso dos que ganham menos do que no bolso dos mais ricos.
 
No último estudo, divulgado em maio último, repetiram-se os resultados: os brasileiros mais pobres comprometem 32% de sua renda com impostos, enquanto os mais ricos gastam 21% de seus ganhos.
 
Um relatório de 2010, do CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social), apontava na mesma direção: em 2004, pessoas que ganhavam até dois salários mínimos comprometiam 48,8% de sua renda, enquanto os com renda superior a 30 salários gastavam 26,3% com impostos.
 
O que o bilionário Warren Buffet disse aos congressistas norte-americanos em agosto deste ano, em plena crise, não deixa dúvidas. Em artigo no New York Times ele não apenas disse que paga metade dos impostos que pagam seus empregados, mas que também o período em que os EUA criaram mais empregos foi aquele em que os impostos aos mais ricos eram mais altos.
 
O governo brasileiro tomou medidas recentes de desoneração tributária em alguns produtos e o Banco Central volta e meia altera o volume do compulsório recolhido dos bancos, para liberar mais recursos para o crédito.
 
Mas justiça tributária e crédito mais justo – inclusive com clareza das informações ao consumidor – devem ser medidas estruturais e não passageiras.

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