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Idec assina carta de repúdio a patrocínio da Coca-Cola à COP27

Documento endereçado ao Secretário Executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas é assinado por mais de 60 organizações internacionais do campo da saúde e alimentação

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Atualizado: 

11/11/2022

Mais de 60 organizações do campo da saúde e da alimentação, entre elas o Idec, expressaram por meio de carta aberta sua objeção ao patrocínio da Coca-Cola à COP27 – a 27ª conferência do clima da Organização das Nações Unidas. Os pontos levantados na carta destacam a contradição de ter a maior poluidora de plástico do mundo – cujos produtos também estão ligados à obesidade, problemas de saúde bucal e doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), como câncer e diabetes – como a principal patrocinadora do mais importante espaço de debate sobre a emergência climática no mundo.

A carta denuncia o conflito de interesses que existe por trás desse patrocínio, deixando evidente o quanto ele coloca em risco a transparência e a isenção dos diálogos e negociações sobre políticas da COP27, que devem sempre ser orientados por evidências científicas e sem interferência da indústria. O pedido central da carta foi para que a cúpula diminua e limite a influência das indústrias prejudiciais ao meio ambiente e à saúde na formulação de políticas e compromissos da COP27. 

 

Cenário crítico 

Os padrões alimentares globais estão mudando, com o aumento do consumo de alimentos e bebidas ultraprocessados, o que contribui para o crescimento das emissões globais de CO2 provenientes do sistema alimentar. A desnutrição, a obesidade e outros riscos alimentares para as DCNTs constituem a maior causa (19%) de problemas de saúde e morte prematura globalmente. Durante décadas, o poder corporativo foi exercido pelas indústrias do tabaco, do álcool, de alimentos ultraprocessados ​​e de combustíveis fósseis industriais para resistir, atrasar e subverter políticas de saúde pública informadas por evidências em todos os níveis. Diante da necessidade urgente de ação efetiva para lidar com os mais de 12 milhões de mortes atribuíveis apenas a dietas não saudáveis, a carta aberta torna-se imprescindível para cobrar coerência nos espaços de negociação e diálogo sobre o clima.

Os padrões alimentares globais também se refletem no Brasil. Segundo a última POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) – que englobou os anos de 2017 e 2018 – em média 19,7% das calorias ingeridas pelos brasileiros vêm de ultraprocessados. Um estudo realizado por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo), da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e da Universidad de Santiago de Chile calculou que o número de mortes prematuras (de 30 a 69 anos) associadas ao consumo de ultraprocessados no país é de aproximadamente 57 mil óbitos por ano, com base em dados de 2019. O número ficou acima do total de homicídios, acidentes de trânsito e cânceres de mama e próstata no país no mesmo ano. 

 

Conflito de interesses

As organizações signatárias da carta afirmam que o principal espaço de negociações sobre mudanças climáticas não pode servir para que atores corporativos façam “maquiagem verde” (greenwashing) de sua reputação. Ao permitir que a Coca-Cola patrocine a COP27, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas está contribuindo para a ilusão de que a empresa está comprometida com a mudança, apesar de seu histórico negativo em cumprir seus compromissos de sustentabilidade. A seguir um trecho da carta: 

“A Coca-Cola não é apenas a principal poluidora de plástico do mundo, mas seus produtos são uma preocupação vital para a saúde pública, uma vez que o consumo de bebidas açucaradas está ligado à obesidade, má saúde oral e doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), incluindo câncer e diabetes. A empresa tem um histórico muito ruim de cumprir suas promessas de sustentabilidade, está aumentando o uso de plástico e utilizando táticas de cartilha corporativa para minar os esforços de reciclagem de plástico - gastando mais de US$ 4 bilhões para promover seus produtos. Como o CEO da Coca-Cola disse recentemente aos investidores, em “todas as crises anteriores, militares, econômicas ou pandemias, nos últimos 134 anos, a Coke Company saiu mais forte”. Não vamos permitir que o clima e o aumento da saúde precária sejam ainda mais uma das crises que a Coca-Cola pode explorar”. 

 

Leia aqui a carta completa em inglês

 

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