Bloco Associe-se

Associe-se ao Idec

Pesquisa do Idec reforça que os alertas nutricionais nos rótulos dos alimentos facilitaria a compreensão de 96% dos entrevistados

Separador

Atualizado: 

09/08/2013
 
Esse é o primeiro estudo brasileiro que avalia o conhecimento, a percepção, o comportamento e a preferência do consumidor sobre rotulagem nutricional de maneira abrangente, em quatro cidades do país. Semáforo nutricional é apontado como uma das saídas para melhorar o entendimento
 
 
Pesquisa realizada pelo Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) com 807 mulheres - metade delas sem problemas de saúde e metade com doenças como hipertensão, diabetes, colesterol elevado e/ou obesidade - mostra que a informação nutricional é valorizada no momento da compra de alimentos: quase 80% das entrevistadas dizem que leem sempre essas informações. "Consideramos positivo esse número, pois isso demonstra uma preocupação com a qualidade da alimentação importante para frear o crescimento dos números de doenças crônicas", afirma Ana Paula Bortoletto, nutricionista do Idec que coordenou a pesquisa.
Porém, apesar de as consumidoras reconhecerem a importância dessas informações para fazer escolhas mais saudáveis, a pesquisa também revela que ver e entender o conteúdo da tabela nutricional ainda é um problema para 40% das entrevistadas "A informação é valorizada, mas ainda utilizada de maneira restrita, porque as pessoas não conseguem compreendê-la totalmente", ressalta Ana Paula. Menos da metade das entrevistadas, de todas as faixas de renda, sabia que a rotulagem de alimentos é obrigatória por lei. "Surpreende o fato de as mulheres que têm doenças crônicas ou familiares nessa situação - e que teoricamente necessitam desse tipo de informação - não utilizarem mais a rotulagem que as demais", afirma a nutricionista do Idec.
 
Entre outros aspectos, o estudo avaliou a facilidade de leitura e visualização - considerando o tamanho da letra e a sua localização na embalagem. Nesse aspecto, 34% das mulheres com doenças crônicas declarou ser muito difícil essa leitura. Entre as saudáveis, 23% teve a mesma opinião. As complicações diminuem quando foi avaliada a presença de termos como "contém glúten", "colorido artificialmente" e "contém soja transgênica". Cerca de 40% das entrevistadas considera que essas informações influenciam na decisão de compra. Outra parcela considerável - quase 50% - avalia ser fácil ou muito fácil a compreensão dessas mensagens.
 
A pesquisa destaca que quase todas as entrevistadas (96%) afirmaram que frases de alerta ajudariam na escolha por alimentos mais saudáveis. As frases analisadas foram do tipo: Este produto contém muito sódio e, se consumido em grande quantidade, aumenta o risco de pressão alta e doenças do coração.
 
Para o Idec, uma das soluções para melhorar o entendimento das informações seria usar o semáforo nutricional nas embalagens. Ou seja, incluir, na parte frontal das embalagens alimentares, um semáforo: verde para nutrientes que aparecem em quantidades baixas; amarelo para aqueles que estão em quantidades medianas; e vermelho para os que aparecem em quantidades altas no produto alimentício.  É o que também acha a maioria das entrevistas, 59% consideram que as marcações com cores nos rótulos nutricionais (como no semáforo) estimulariam uma mudança do seu hábito de consumo do alimento
 
Cerca de 80% das entrevistadas concordam que a utilização do semáforo nutricional seria um avanço. Para elas, se as informações fossem mostradas em tamanho maior que na tabela nutricional, com cores e na parte frontal da embalagem, a exemplo do semáforo, seria muito mais fácil compreendê-las. "O semáforo é a proposta de rotulagem nutricional que possui mais características que facilitam a compreensão dos consumidores em relação aos nutrientes dos alimentos. O resultado da pesquisa deixa isso claro", enfatiza Ana Paula.
 
Os rótulos do tipo semáforo nutricional são baseados em uma proposta da Agência de Regulação de Alimentos do Reino Unido. No país a rotulagem nutricional vem sendo discutida há muitos anos e recentemente foram obtidos avanços nessa questão. Em junho deste ano, a Ministra da Saúde do Reino Unido anunciou que grandes multinacionais irão adotar o semáforo, unindo-se a grandes varejistas que já usam esse tipo de rotulagem.
 
O Idec procurou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a fim de saber se ela tem avaliado meios de melhorar a rotulagem nutricional dos alimentos. Contudo, a agência não se pronunciou até o momento.
 
 
Nível de compreensão da tabela nutricional
 
A pesquisa também observou o que mais chama a atenção das consumidoras ao verificar a embalagem de alimento no supermercado: a validade e a data de fabricação dos alimentos são as principais 40% delas. Em seguida, estão preço, marca e composição nutricional. Para 17% das mulheres com maior renda, a composição nutricional é o primeiro item a ser observado, contra apenas 9% das de baixa renda. Entre os nutrientes observados na tabela nutricional, o valor energético - também conhecido como quantidade de calorias - ocupa o primeiro lugar no ranking de informação mais lida. Esse item é observado por 32% das entrevistadas. Em seguida, aparecem as proteínas, o sódio e os carboidratos, observados por 15% das mulheres, além das gorduras trans.
 
Para Bortoletto, quem observa os dados principais já sai na frente, "é importante saber que um alimento deve conter pouca quantidade de açúcares, de sódio, de calorias e de gorduras - principalmente se elas forem saturadas. Combinar pequenas quantidades de alimentos industrializados com uma maior variedade de alimentos frescos é ainda melhor", afirma.
 
Se o desafio for escolher entre produtos de marcas diferentes, das entrevistadas que afirmam ler a tabela nutricional sempre ou às vezes, metade declarou que já comparou as informações para escolher o alimento que iria comprar. Não foram notadas diferenças significativas entre ser ou não portadora de doenças, como hipertensão e diabetes, entre as mulheres que declararam fazer essa escolha.
 
Em São Paulo, 70% confiam nas informações dos rótulos. Classes A/B confiam mais (44%), utilizam mais as informações para uma dieta saudável (38%) e estão mais dispostas a mudar de marca segundo as informações nutricionais (23%).
 
 
Como foi feita a pesquisa
O levantamento faz parte de um projeto apoiado pelo IDRC (The International Development Research Centre, ou Centro Internacional de Investigação sobre o Desenvolvimento) sobre regulação de alimentos e doenças crônicas. Participaram da pesquisa 807 mulheres adultas, de todas as faixas de renda, com idades entre 20 e 65 anos, residentes nas cidades de São Paulo (SP), Goiânia (GO), Salvador (BA) e Porto Alegre (RS). Entre as participantes, 404 sofrem de doenças como hipertensão, diabetes, obesidade, problemas cardíacos, dislipidemia (colesterol elevado) e osteoporose ou residem com familiares nessas condições. O restante não possui nenhuma dessas doenças. Os dados foram coletados por uma empresa de pesquisa de mercado entre os dias 8 e 19 de maio de 2013, em locais de grande circulação. A margem de erro ficou abaixo de 4%.
 
 
Retrospectiva
Em maio, o Idec divulgou os dados brasileiros, da pesquisa global, coordenada pela Consumers International (CI), em nove países, incluindo Europa, Ásia, África e Américas, sobre a rotulagem nutricional de alimentos industrializados, que constatou que o brasileiro é o que menos sabe identificar no rótulo os nutrientes dos alimentos industrializados. Mais de três mil consumidores responderam a um 'quis', que demonstrou os desafios enfrentados na escolha de uma dieta saudável. O Brasil, entre os três países com maior número de participantes (786), foi o que obteve o pior resultado, apenas 28% de acertos, considerando a possibilidade de avaliar os níveis de nutrientes dos biscoitos. No entanto, quando o mesmo produto continha informação clara e consistente na parte frontal da embalagem, a partir do 'semáforo nutricional', a porcentagem de acertos na identificação da quantidade de gordura e sal foi de 84%, um valor três vezes maior ao compa rar com as respostas sem o semáforo.